Nóticias IAC
“35 variedades lançadas em 30 anos. Esses produtos usados de forma estratégica, representam proteção biológica para o setor.” Mauro Alexandre Xavier
“Considero os 30 anos do Programa Cana IAC como uma história escrita a muitas mãos e que tiveram essas três pessoas abnegadas em fazer isso acontecer.” Assim o pesquisador melhorista e diretor do Centro de Cana do IAC, Mauro Alexandre Xavier, procura resumir as três décadas de atuação exitosa do Programa Cana IAC, fundado em 1994. Os três profissionais a quem ele se refere são o líder do Programa, Marcos Landell e seus dois parceiros na implantação do Programa Cana IAC – Mário Campana e Pery Figueiredo. Xavier ressalta que, para além da ciência e da tecnologia, o Programa Cana IAC representa também a arte da integração e de relacionamentos, por se tratar de uma ampla rede de profissionais planejada há três décadas, quando não se falava em forma remota de trabalho.
“Surgia um novo modelo de pesquisa de cana, já na década de 1990, um modelo virtual e extremamente inovador. A partir da extinção da Seção de Cana do IAC, veio a oportunidade de desenvolver um modelo novo e descentralizado. O melhoramento nos dá a oportunidade de fazer algo diferente, tendo todas as outras áreas integradas e, ao final, o setor recebe um pacote tecnológico, não apenas uma variedade”, avalia Xavier, que também atua na coordenação do projeto de desenvolvimento de novas variedades de cana-de-açúcar.
Segundo Xavier, a equipe do Programa Cana IAC conhece em profundidade suas coleções de trabalho, principalmente a partir de 2004. “Dentre os aspectos enfatizados, o hábito de crescimento ereto é totalmente associado à qualidade da matéria-prima que chega na indústria e esta característica é buscada na seleção”, comenta.
Outro aspecto relevante no melhoramento genético da cana-de-açúcar é o número de colmos, associado a produtividade agrícola. “É uma incansável busca por variedades acima de 80 mil colmos por hectare. Cada colmo tem, aproximadamente, 1,5 kg e ao final tem-se produtividade acima dos três dígitos”, diz.
Nesses últimos 30 anos, muitos são os resultados do Programa Cana IAC, como o estabelecimento dos parâmetros para a implantação de programa de manejo integrado de pragas e de nematoides em canaviais. As parcerias com dezenas de empresas e a colaboração de inúmeras usinas do setor possibilitaram o desenvolvimento de novos fertilizantes e bioestimulantes, além do melhor uso de resíduos, garantindo maior eficiência e maior segurança ambiental.
Xavier ressalta que o Grupo Fitotécnico da Cana, iniciado em 1992, tem sua história ocorrendo em paralelo à do Programa Cana e segue até hoje prospectando demandas.
Os desdobramentos do MPB
O sistema de Mudas Pré-Brotadas (MPB), além de inovar o modo de plantar cana no Brasil, vem proporcionando uma modificação rápida no cenário de adoção de novas variedades e criando a possibilidade de integrar parceiros viveristas, que era uma figura inexistente até dez anos atrás. “Havia viveiristas de espécies florestais, de café, de cítros, mas não se falava do viverista de cana-de-açúcar. Essa figura começa a existir a partir do desenvolvimento desta tecnologia de MPB, de uma inovação”, conta Xavier, ao destacar a relevância desse resultado do Programa Cana IAC e seus desdobramentos, como a qualificação profissional no setor e a criação de novas oportunidades profissionais dentro desse setor que se moderniza.
Essa qualificação que veio com o Sistema MPB, contribuindo para trazer um novo profissional ao setor, é um desdobramento de uma tecnologia que por si só representa um grande avanço no modo de plantar cana.
Outro método desenvolvido pelo Programa Cana IAC e ressaltado por Xavier é a Matriz do Terceiro Eixo - uma tecnologia para o cenário de mudanças climáticas com a possibilidade de ser usada a favor da biologia da planta. Seu objetivo é reduzir a exposição da cana aos elevados déficits hídricos. Os resultados são o aumento de produtividade e TPH, canaviais mais longevos, redução das quedas de percentual de TCH corte a corte e antecipação dos primeiros cortes no primeiro terço da safra.
LEGENDA PARA MPB: No sistema MPB, a gema, sob condições controladas de temperatura e umidade, transformada em uma unidade biológica, que é o material de propagação ou muda.
Evolução em parcerias e transferência de tecnologias via produtos e serviços
O trabalho do Programa Cana IAC não se restringe ao estado de São Paulo e envolve as principais regiões produtoras do Brasil. Doze estados brasileiros estão na rota de atividades de pesquisa e transferência de tecnologias por meio de parcerias com unidades produtoras.
Xavier comenta que apesar de a região Nordeste não ter uma grande escala de produção, houve um chamamento para o Programa Cana desenvolver um trabalho naquela região do Brasil. “Esse trabalho, hoje, está sendo realizado na Paraíba e em Pernambuco, como pontos de seleção de seedling”, diz.
Para além de parcerias em quase metade das unidades da Federação, o Programa Cana IAC alcançou integração fora do país, com o grupo Piasa.
A transferência de informações e tecnologias é feita também pela área de treinamento e capacitação, que incluem cursos online com atividades presenciais. Essas ações contribuem com o treinamento de centenas de profissionais do setor.
Os conhecimentos transferidos envolvem as áreas de biotecnologia, fitopatologia, manejo de água, nutrição e adubação, matologia, agricultura conservacionista e previsões de safra e clima.
As atividades na área de biotecnologia envolvem as seguintes linhas de pesquisa: prospecção de genes para estresse biótico e abiótico, cultura de tecidos, genômica funcional e transformação genética, edição gênica e marcadores moleculares. Os serviços na área de biotecnologia são diagnóstico para doenças e identificação de variedades com o método finger print. Já os produtos são micropropagação de plantas e produção de plantas transgênicas. Para realizar essas atividades, o Programa Cana IAC conta com moderna Biofábrica.
Na área de fitopatologia são realizados testes, avaliações e treinamentos fitopatológicos para ferrugens, mosaico, escaldadura, carvão e síndrome da murcha dos colmos.
Manejo de água
O Programa Cana IAC realiza pesquisas que visam a eficiência do uso da água na cana-de-açúcar, com dinamismo no processo de transferência da água no sistema solo, planta e atmosfera, considerando o clima, o manejo e a irrigação.
O uso racional da água em um processo dinâmico requer monitoramento, independentemente do método e da estratégia adotados. Nesse contexto, a equipe trabalha para entender as variedades de cana a partir do manejo da água.