Nóticias IAC
Eficiência de bioinsumos em canaviais é avaliada pelo IAC
Pesquisas visam comprovar se o uso de produtos biológicos traz melhorias na fertilidade do solo e na produtividade da cana.
O Programa Cana do Instituto Agronômico (IAC) desenvolve estudos para viabilizar o uso de bioinsumos na produção de cana-de-açúcar no Brasil. Essas substâncias são formuladas com microrganismos vivos e proporcionam benefícios para as culturas. As pesquisas lideradas pelo IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, visam avaliar a eficiência de produtos biológicos em termos de produtividade, incremento na fertilidade do solo e na aquisição de nutrientes pela cana. Os trabalhos são realizados em conjunto com a iniciativa privada.
“Em testes realizados em laboratórios percebemos que o solo que recebeu aplicação dos microrganismos Bacillus subutilis ou Trichoderma koningiopsis apresentou teor de potássio maior que o do solo testemunha, sem inoculação, demonstrando o efeito dos microrganismos quatro meses após a inoculação. Ocorreu 18% a mais de potássio solúvel nos tratamentos inoculados. A resposta na produtividade ainda está sendo avaliada”, afirma a pesquisadora do IAC, Raffaella Rossetto.
Segundo a cientista, os microrganismos solubilizadores de fosfatos têm potencial para uso em cana, atuando com eficiência para o sistema de produção de cana regenerativa, em que é desejada a menor aplicação de fertilizantes minerais. Os testes estão sendo feitos no campo, em Jaú e Araraquara, com o objetivo de verificar os resultados em condições reais de cultivo.
“O potencial dos bioinsumos é enorme na agricultura mundial e também no Brasil, que é líder no desenvolvimento desta tecnologia. O uso dos bioinsumos hoje, porém, está muito atrelado a culturas anuais, como a soja e o milho. Apesar de algumas usinas já usarem bioinsumos em canaviais, a utilização desses produtos biológicos ainda está se iniciando no setor sucroenergético. Nossas pesquisas visam contribuir para melhor segurança dos produtores em adotar essa tecnologia”, afirma a pesquisadora do IAC.
De acordo com Raffaella, estudos com bioinsumos se iniciaram na década passada, quando a equipe de cientistas do IAC pesquisou o efeito de inoculação com microrganismos fixadores de nitrogênio em cana. No final de 2021, novos estudos foram iniciados, desta vez com microrganismos solubilizadores de fosfato. As pesquisas estão sendo realizadas em conjunto com a empresa Bionat e Massari Mineração.
O uso de bioinsumos tem crescido nas lavouras brasileiras. Dados da consultoria Spark Inteligência Estratégica mostram que o mercado brasileiro atingiu investimentos de R$ 1,7 bilhão na safra de 2020/2021 e a tendência é de crescimento a passos largos.
Bioinsumos para uma agricultura regenerativa
Sem a adoção de técnicas sustentáveis, as atividades agrícolas podem resultar em prejuízos para o ambiente, como aqueles causados pelo desmatamento, pelo cultivo sem cuidados com a conservação do solo, causando erosão, compactação e queda da matéria orgânica do solo.
“A agricultura regenerativa visa recompor o solo e todas as suas funções e mantê-lo sustentável ao longo dos anos. Nesse contexto, o uso de produtos biológicos pode apresentar vantagens para a produtividade da cultura, com economia de recursos e ganhos ambientais”, explica Fábio Dias, pesquisador do Programa Cana IAC.
Biofertilizantes, biodefensivos ou inoculantes
Os produtos biológicos podem ser biofertilizantes, biodefensivos ou inoculantes. Todos esses apresentam microrganismos com diversas funções, entre elas, a de induzir direta ou indiretamente a maior produtividade das culturas, combater pragas e doenças, promover a ciclagem de nutrientes por meio da mineralização da matéria orgânica ou da solubilização de minerais no solo. Esses produtos também podem gerar substâncias húmicas, que funcionam como promotores de crescimento das raízes, por exemplo.
“Estima-se que o Brasil tenha 20% de toda a biodiversidade da Terra. É possível imaginar que tenhamos muitos microrganismos que possam participar do ciclo biogeoquímico dos nutrientes de plantas e, com isso, diminuir nossa dependência em importação de fertilizantes. O Brasil importa cerca de 95% dos fertilizantes necessários para a produção agrícola nacional. Além disso, os bioinsumos são importantes para a economia de baixo carbono, diminuindo, em grande parte das vezes, a pegada de carbono das operações agrícolas”, diz a pesquisadora do IAC.