Nóticias IAC
Uso de resíduos, gemas brotadas e histórico de pesquisas são temas de palestras de cientistas do Programa Cana IAC no XII Congresso da ATALAC
Resíduos como a vinhaça eram considerados problema no passado e hoje são disputados para a reciclagem de nutrientes e a produção de energia.
Durante o XII Congresso da Associação de Técnicos de Açúcar da América Latina e Caribe (ATALAC), em San José, na Costa Rica, a pesquisadora Raffaella Rossetto fez duas apresentações abordando a mudança de paradigma no uso de resíduos na canavicultura. “Resíduos como a vinhaça eram encarados como problema nos anos 1960. Hoje, são disputados entre a área agrícola para a reciclagem de nutrientes e a produção de energia”, comenta. O evento ocorreu de 18 a 22 de setembro de 2023.
A cientista explicou que desde os anos 1980, a vinhaça era aplicada via aspersão em doses entre 150m3 e 300m3, por hectare. Atualmente, as usinas estão mudando a forma de aplicação. Além de reduzir o volume aplicado, que está por volta de 30m3, é adicionado maior teor de potássio, além do acréscimo de nitrogênio, fósforo e micronutrientes como. Adubação líquida é feita na linha de cana.
O pesquisador e diretor do Centro de Cana do IAC, Mauro Xavier, palestrou sobre o Programa Cana IAC e traçou um histórico das pesquisas no Instituto de 1889 a 2022.
O público conheceu o histórico de fatos importantes dentro do desenvolvimento de cana-de-açúcar no IAC, no final do século XIX, desde o seu primeiro diretor, Franz Wilhelm Dafert. Na década de 1930, foram criados os programas de melhoramento do IAC e Campos do Brasil, no Rio de Janeiro. Algumas variedades resultaram desses programas na década seguinte. Nos anos de 1970, houve a contribuição de pesquisadores da Secretaria de Agricultura e Abastecimento o IAC para o que viriam a ser a Coopersucar e Planalsucar, que hoje são o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) e a Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (Ridesa). “O IAC, sendo o mais antigo, acabou influenciando na formação desses programas que são muito vigorosos hoje”, diz Xavier.
Naquele mesmo período, foi firmado um convênio entre o IAC e a Coopersucar, que permitiu a importação de cerca de 600 genótipos que, após passarem por quarentena, deram entrada nas coleções de trabalho de melhoramento de cana-de-açúcar. No final da década de 1970, o pesquisador de origem espanhola, Rafael Alvarez, idealizou a estratégia de seleção regionalizada de variedades de cana e treinou o líder do Programa Cana IAC, Marcos Landell. No final da década de 1980 e início da seguinte, Landell, juntamente com os cientistas Mário Pérsio Campana e Pery Figueiredo, estruturou o Programa Cana IAC.
De 1997 a 2022, foram lançadas 35 variedades IAC e desenvolvidos pacotes tecnológicos que mudaram a canavicultura nacional, como a Matriz do Terceiro Eixo e o Sistema de Mudas Pré-Brotadas (MPB). Tem-se também importantes conquistas, como a grande rede com cerca de mil experimentos ativos que compõe o projeto de melhoramento do IAC em cana, a Estação de Hibridação na Bahia e a criação do Grupo Fitotécnico. “São estratégias e realizações relevantes que marcam um modelo muito importante para o setor de produção de cana no Brasil”, comenta Xavier.
“Considerando o processo dinâmico de transferência de água-planta-solo- atmosfera é muito importante ter monitoramento e controle” Regina Pires
A pesquisadora e diretora-substituta do IAC, Regina Célia de Matos Pires, apresentou importantes informações sobre gemas brotadas e irrigação para o público do ATALAC.
Sobre o uso do sistema de Mudas Pré-Brotadas (MPB) e de gemas brotadas, a cientista apresentou interessantes resultados de experimentos em que foram usadas as duas formas de propagação na formação de vivieiros, com uso da irrigação por gotejamento para favorecer o rápido desenvolvimento e o sistema radicular da cana na fase inicial. “A irrigação favorece a brotação dessas mudas ou dessas gemas, além do sistema de preparo do solo antes do plantio”, comenta.
O material genético moderno pode favorecer melhor resposta. “Nos experimentos, foi usada a cultivar IACSP 955094, que é muito responsiva à água e com porte ereto, que recebeu a irrigação por gotejamento superficial”, explica. Nessa mesma área, foi instalado monitoramento de água no solo, por meio de sensor de umidade. O sistema radicular também foi analisado a partir de registros de imagens. O estudo envolveu a avaliação de toneladas por hectare e número de gemas possíveis.
“Observamos o desenvolvimento radicular aos 35 dias após o transplantio dessas mudas e vimos raízes com até 80cm de profundidade. Isso é muito relevante porque mostra as raízes disponíveis para a água no solo, poucos dias após a instalação, com maior capacidade de aproveitar a água das chuvas”, explica.
Nas áreas onde foram usados óxido de cálcio e/ou matéria orgânica, observou-se um bom desenvolvimento radicular. Esse manejo também reflete na produtividade ao usar gema brotada, que é produzida em tempo bem menor que a muda.
A irrigação, que favorece o pegamento das plântulas, somada aos nutrientes representa um fator de segurança na produtividade e de impacto na qualidade e na longevidade da cultura. Esses benefícios se destacam diante do aumento de temperatura observado nos últimos anos, da redução de número de horas de frio, relevante na fase da maturação da cana, e o efeito desse cenário climático para o balanço hídrico na canavicultura. “É importante entender os períodos de deficiência hídrico ocorridos, a intensidade e a duração desse déficit hídrico”, comenta a pesquisadora. As respostas de produtividade dependem da seleção de variedades adequadas para áreas irrigadas, independentemente da estratégia de irrigação adotada.
A cientista ressalta que tornar as áreas de produção mais longevas favorece a sustentabilidade, a qualidade de vida do entorno e a viabilidade econômica do canavial. Essas estratégias envolvem irrigação com uso de vinhaça, a fertirrigação e aplicação de águas residuais. “A irrigação favorece a programação desde o plantio ou transplantio de mudas até toda a dinâmica de colheita e de infraestrutura necessária nessas áreas. Para isso é fundamental promover o uso eficiente da água e dos nutrientes”, recomenda.